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Sobre a formação dos elencos (roster) na NFL

Na semana que antecede o início do campeonato profissional do futebol da bola oval, os 32 times da National Football League devem estabelecer, ao menos no papel, quais os jogadores que (inicialmente) farão parte de seus elencos.

            Por que “no papel” e “inicialmente”? Porque os elencos na NFL são fluidos, e podem mudar numa velocidade que às vezes é difícil de acompanhar. Dificilmente um elenco inicial será o mesmo que terminará a temporada.            

Permitam-me voltar um pouco no tempo para explicar como isso funciona.

Universal

Todo ano após o Super Bowl, os jogadores entram num período letárgico, e não têm absolutamente nada para fazer até meados de abril. Compreensível, pois após seis meses tomando porrada no corpo todo, eles merecem um descanso para recuperar a saúde física e a sanidade mental, não é mesmo?            

Em fim de abril acontece o draft, quando os times profissionais selecionam os jogadores do futebol americano universitário que se colocaram à disposição para jogar na NFL (mais sobre o draft em um texto futuro). Nesta época, os times podem ter até noventa jogadores (não, não digitei errado, é 90 mesmo).

Em maio e começo de junho, acontecem as OTAs (Organized Team Activities), os primeiros treinos para a temporada que se iniciará em setembro. Esses treinos servem basicamente para implementar ou rever o playbook (o livro de jogadas), e têm especial importância para os calouros recém-chegados e para jogadores que porventura tenham sido contratados na free agency, o período que jogadores sem contrato negociam com outros times (ou com o próprio, dependendo da situação).             Após o mini-camp no início de junho, os jogadores entram em férias (de novo?!) até o fim de julho, quando começam os treinos (training camps) para valer, inclusive com os pads, aquelas proteções que deixam os jogadores parecidos com gladiadores romanos.

Concomitantemente aos training camps, em agosto acontece a pré-temporada, reduzida de quatro para três jogos desde 2021. Durante os trainings camps e pré-temporada, os times avaliam quais dos 90 jogadores farão parte do elenco “final” de 53 jogadores. O corte, no final de agosto, ocorre em partes: num primeiro momento, os times têm que reduzir seus elencos para 85 jogadores, depois para 80 e, finalmente, para 53.            

Mas o que acontece com os 1.184 jogadores que são cortados? Fim do sonho para eles? Só resta terminar a faculdade ou se mudar para o Canadá?

Não necessariamente. Após a redução para 53 jogadores, os times formam seus practice squads, uma espécie de reserva, compostos de até 16 jogadores não aproveitados nos elencos principais dos outros times da liga. Assim, os elencos são divididos em elenco ativo (53 jogadores) e practice squad (16 jogadores).

            AH, mas então os elencos não são reduzidos para 53, mas sim para 69 (53+16 do practice squad). Que burro dá zero para ele!

            Mas não, não é tão simples. Ao contrário (bem ao contrário), a formação dos practice squads é um tanto quanto burocrática (para dizer o mínimo).

            Primeiramente, há que se diferenciar as duas espécies de corte:

            1) se o jogador cortado tiver feito parte de um elenco ativo de um time por 4 temporadas ou mais na NFL, ele será released, e se torna um free agent imediatamente. Isso significa que ele poderá negociar livremente com o próprio time ou com outro, sem nenhum “boi na linha”. Observem que fazer “parte de um elenco ativo” significa ter sido membro de um time por, no mínimo, 6 jogos durante uma temporada, mesmo que não tenha entrado em campo sequer uma vez (basta ter estado disponível). Para esse efeito, um jogador que somente fez parte de um practice squad não conta, pois, como já dito, practice squad não é elenco ativo;

            2) porém, se o jogador tiver no currículo menos de 4 temporadas na NFL, ele será waived, e daí a coisa complica um pouco. Os jogadores waived farão parte de algo chamado waiver wire, uma ordem de times que podem reivindicar estes jogadores num prazo de 24 horas. A waiver wire funciona mais ou menos como a ordem do draft, e é baseada nas campanhas dos times na temporada passada, do pior para o melhor. Diferentemente do draft, contudo, os times não podem negociar posição e podem escolher quantos jogadores quiserem na sua vez.

            Em 2022, a ordem foi a seguinte:

 1. Jacksonville Jaguars
2. Detroit Lions
3. Houston Texans
4. New York Jets
5. New York Giants
6. Carolina Panthers
7. Chicago Bears
8. Atlanta Falcons
9. Denver Broncos
10. Seattle Seahawks
11. Washington Commanders
12. Minnesota Vikings
13. Cleveland Browns
14. Baltimore Ravens
15. Miami Dolphins
16. Indianapolis Colts
17. Los Angeles Chargers
18. New Orleans Saints
19. Philadelphia Eagles
20. Pittsburgh Steelers
21. New England Patriots
22. Las Vegas Raiders
23. Arizona Cardinals
24. Dallas Cowboys
25. Buffalo Bills
26. Tennessee Titans
27. Tampa Bay Buccaneers
28. Green Bay Packers
29. San Francisco 49ers
30. Kansas City Chiefs
31. Cincinnati Bengals
32. Los Angeles Rams

            Assim, por exemplo, um jogador waived pelos Los Angeles Rams, pode ser reivindicado (claimed) por todos os outros times a começar pelo Jacksonville Jaguars. Portanto, os Rams só podem eventualmente contratar esse jogador para seu practice squad se todos os outros times não manifestarem interesse (pois é, ninguém mandou ganhar o Super Bowl).

            Em outro exemplo, os Chicago Bears (posição 7) reivindicaram 6 jogadores: Alex Leatherwood, Armon Watts, Josh Blackwell, Kingsley Johnathan, Sterling Weatherford e Trevon Wesco. Todos fazem parte do elenco ativo dos Bears.            

Vale lembrar que os jogadores waived não podem se recusar a jogar pelo time que o reivindicou, mesmo que esse time seja o Cleveland Browns. A única forma que ele tem de não jogar por esse time é abandonar a carreira.

Passadas as 24 horas da waiver wire, jogadores reivindicados passam a fazer parte do elenco principal do time que o fez, o que implica, necessariamente, que outro jogador deve ser cortado para não ultrapassar o limite de 53. Os jogadores não reivindicados podem negociar livremente com qualquer time para fazer parte tanto dos practice squads como de seus elencos principais, se for o caso.

Mas como funciona os practice squads?

                        Os practice squads podem ser formados por:

  1. Jogadores sem nenhuma experiência na NFL (calouros ou jogadores que somente fizeram parte de practice squads em temporadas passadas);
  2. “Segundo-anistas” que estiveram ativos por menos de 9 jogos durante suas primeiras temporadas;
  3. Até 10 jogadores com no máximo duas temporadas ativas (mínimo de 6 jogos no elenco principal em cada uma delas);
  4. Até 6 jogadores sem qualquer restrição.

            Antes da pandemia, os jogadores no practice squad somente poderiam ser promovidos ao elenco principal se outro jogador fosse cortado. Porém, a partir de 2020, até dois jogadores podem ser promovidos nos dias de jogos sem que nenhum tenha que dar lugar a eles. Após o jogo, tais jogadores revertem-se automaticamente aos practice squads.

            Aqui há uma marotagem: qualquer time pode “roubar” (poach) jogadores de outros practice squads e colocá-los em seus elencos principais. Contudo, a regra não vale para os jogadores promovidos em dias de jogos, e é comum os times promoverem jogadores só para não serem garfados por outro time, mesmo que não tenham interesse em aproveitá-los no jogo.            

Próximo episódio: sobre as listas de contusões (PUP, NFI, IR)

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