O draft: o que é e como funciona (Parte 1)

Nos dias 27, 28 e 29 de abril acontece o draft da NFL, quando os jogadores de futebol americano universitário podem ser recrutados pelos times profissionais e iniciar, assim, sua carreira na NFL. Digo “podem” porque nem todos os jogadores que se inscreveram para o draft serão efetivamente recrutados, como veremos adiante.

            Mas como isso funciona?

Breve Histórico

            O primeiro draft ocorreu em 1936, e foi criado como uma tentativa de nivelar os nove times membros da NFL à época, evitando que os times mais fortes contratassem os melhores jogadores do futebol universitário, deixando os times mais fracos sem muitas opções. Teve, inicialmente, nove rodadas, e somente 90 jogadores foram escolhidos pelos times profissionais. O número de rodadas aumentou para 10 (!) em 1937 e para 20 (!!) em 1939.

A quantidade de rodadas foi diminuindo com o tempo, até chegar ao número das sete atuais, nas quais os 32 times da NFL fazem suas seleções de acordo com suas campanhas na temporada anterior, na seguinte forma:

1. Os times que não se classificaram para a pós-temporada (os playoffs), ocupam as posições de 1 a 18, em ordem inversa das respectivos campanhas (os piores times escolhem primeiro);
2. Os times derrotados na primeira rodada dos playoffs (wild card) ocupam as posições 19 a 24 no draft, em ordem inversa de suas campanhas na temporada regular;
3. Os times derrotados na rodada seguinte (divisional), recebem os lugares 25 a 28, também na ordem inversa de suas campanhas na temporada regular;
4. Os times derrotados nas duas finais da conferência recebem os lugares 29 e 30, igualmente na ordem inversa de suas campanhas na temporada regular;
5. Finalmente, o time perdedor no Super Bowl fica com a posição 31, e o vencedor, obviamente, com a 32.

            Se um ou mais times tiverem campanhas idênticas, o desempate se faz com uma fórmula complicadinha chamada strength of schedule (“força da tabela”, numa tradução aproximada). Por esta fórmula, o time que teve a tabela teoricamente mais fraca (baseada na campanha de seus adversários), escolhe primeiro no draft. Por exemplo, os Broncos e os Rams tiveram campanhas idênticas na temporada 2022 (5 vitórias, 12 derrotas cada um), mas os Broncos ganharam a posição 5 porque sua tabela teve força .481, e os Rams receberam a posição 6 porque a sua teve .517.

Nas rodadas seguintes, contudo, os times de campanhas idênticas invertem a ordem. Por exemplo, Falcons, Jets, Saints, Panthers, Titans e Browns terminaram a temporada regular de 2022 com 7 vitórias e 10 derrotas cada um. Atlanta teve a tabela mais fraca desse grupo, então escolhe primeiro (posição 8) na primeira rodada, mas na segunda rodada escolhe por último.

            Finalmente, se os times empatarem também no strength of schedule, o desempate se dará por uma fórmula mais complicada ainda:

1. Confronto direto;
2. Melhor porcentagem de vitórias/derrotas/empates em jogos contra times comuns (mínimo de 4);
3. Strength of victory, os recordes combinados dos times derrotados numa determinada tabela. Por exemplo, os adversários do New England Patriots de 2016 tiveram um recorde combinado de 111 vitórias, 142 derrotas e 3 empates, que conferiram à tabela dos Patriots um strength of schedule de .439. Por outro lado, as vitórias dos Patriots ocorreram contra times com um recorde combinado de 93 vitórias, 129 derrotas e 2 empates, que lhe deram um strength of victory de .420;
4. Melhor ranking combinado entre todos os times em pontos marcados e pontos sofridos;
5. Melhor saldo de pontos;
6. Melhor saldo de touchdowns;
7. Cara-ou-coroa (não é piada)

            Como diria o craque Neto, “tá de brincadeira, hein?!”

            Naturalmente, essa ordem original nem sempre é a que acontece no dia do draft, pois os times podem negociar suas posições, e é aí que a coisa fica divertida.

O Draft de 2023

            Hoje em dia, as sete rodadas do draft são divididas em três dias: a primeira rodada na quinta feira, 27 de abril; a segunda e a terceira no dia seguinte; e as restantes (quarta a sétima), no sábado. Cada time teria uma escolha em cada rodada, mas, como já dito, alguns times já negociaram suas posições.

            Assim, no draft de 2023, a ordem final (salvo negociações de última hora) é a seguinte:

1. Carolina Panthers
2. Houston Texans
3. Arizona Cardinals
4. Indianapolis Colts
5. Seattle Seahawks
6. Detroit Lions
7. Las Vegas Raiders
8. Atlanta Falcons
9. Chicago Bears
10. Philadelphia Eagles
11. Tennessee Titans
12. Houston Texans
13. Green Bay Packers
14. New England Patriots
15. New York Jets
16. Washington Commanders
17. Pittsburgh Steelers
18. Detroit Lions
19. Tampa Bay Buccanneers
20. Seattle Seahawks
22. Los Angeles Chargers
23. Baltimore Ravens
24. Minnesota Vikings
25. Jacksonville Jaguars
26. New York Giants
27. Dallas Cowboys
28. Buffalo Bills
29. Cincinnati Bengals
30. New Orleans Saints
31. Philadelphia Eagles
32. Kansas City Chiefs

            Algumas observações:

• Os Panthers não tiveram a pior campanha de 2022, mas ocupam a posição 1 porque trocaram o Recebedor (Wide Receiver) D. J. Moore, sua escolha original de primeira rodada (a de número 9), uma escolha de segunda rodada (de número 30, 61 no geral), uma escolha de primeira rodada no ano que vem, e uma escolha de segunda rodada em 2025, pela primeira escolha dos Chicago Bears, estes sim o pior time da temporada passada (3 vitórias, 14 derrotas);
• Os Seahawks têm duas escolhas (5ª e 20ª) na primeira rodada porque trocaram seu ex-quarterback Russel Wilson, e uma escolha de quarta rodada, com os Denver Broncos por uma escolha de 1ª rodada (a 5ª), uma de 2ª rodada (6ª escolha, 37ª no geral), mais os jogadores Drew Lock, Shelby Harris e Noah Fant;
• O mesmo ocorre com os Detroit Lions, que trocaram seu ex-quarterback Matthew Stafford com os Los Angeles Rams por uma escolha de primeira rodada (a 6ª), duas escolhas de primeira rodada em 2022, e uma escolha de terceira rodada em 2021;
• Finalmente, nota-se que alguns times não têm escolhas de primeira rodada (Los Angeles Rams, Cleveland Browns, Miami Dolphins, San Francisco 49ers e Denver Broncos) porque igualmente já negociaram suas posições com outros times.
• Os Packers, que originariamente escolheriam na posição 13, trocaram essa posição com os Jets na transação que envolveu o Quarterback Aaron Rodgers.

A 21ª escolha era, originariamente, dos Miami Dolphins, que a perderam como punição por violações múltiplas de políticas anti-tampering, as quais proíbem conversações com jogadores ou técnicos durante contratos vigentes com outros times. Os Dolphins tentaram negociar com Tom Brady e com o agente Don Yee, que representa o técnico Sean Payton, enquanto ambos ainda tinham contratos com o Tampa Bay Buccaneers e New Orleans Saints, respectivamente.

            Próxima atração: o processo de avaliação dos jogadores universitários pelos times profissionais